As diferenças ficam-nos t?o bem
Entrevista com 1 Giant Leap , dupla de m?sicos britânicos que correu mundo à procura de respostas para quest?es velhas como a Humanidade
Jamie Catto e Duncan Bridgeman constituem os 1 Giant Leap
Giant Leap foi o nome que escolheram para o seu projecto os m?sicos britânicos Duncan Bridgeman (ex-produtor dos Take That, Transvision Vamp e Dido) e Jamie Catto (ex-Faithless). Quando se conheceram, em casa dum amigo comum, descobriram que partilhavam uma verdadeira paix?o pelas m?sicas do mundo. E chegaram à conclus?o que adoravam ambos dois ?lbuns em particular: The Passion, a banda sonora que Peter Gabriel escreveu para The Last Temptation of Christ, o filme de Martin Scorcese, e My Life from the Bush of Ghosts, de Brian Eno e David Byrne.
Juntaram-se para fazer m?sica por prazer, sem pensar sequer em lançar um ?lbum, trabalhando ao fim de semana, com base em samples. Até que, um dia, o lend?rio Chris Blackwell teve conhecimento desse trabalho e propôs-lhes que fizessem, para a sua nova editora, Palm Pictures, n?o apenas um CD, mas também um filme para editar em DVD. Decidiram imediatamente que n?o queriam utilizar mais samples. Com a bênç?o (e um generoso fundo de maneio) do editor, optaram por ir pelo mundo fora, com um mini-est?dio port?til, procurar os sons que «fizessem toda a diferença» para a dezena e meia de melodias pop que tinham composto.Ao mesmo tempo, com uma pequena câmara digital, iam filmando os m?sicos, mas também qualquer pessoa que tivesse algo de interessante para dizer, pois o projecto inclu?a 12 curtas-metragens sobre temas como a morte, o sexo, o dinheiro, a religi?o... ou seja, todas as quest?es essenciais que preocupam o ser humano desde o princ?pio dos tempos.Ao fim de três anos de trabalho, o CD a? est? (o DVD s? dever? ser publicado em Junho) e é magn?fico, propondo diferentes ritmos e pulsaç?es para celebrar a inesgot?vel criatividade humana. Para além de dezenas de m?sicos e cantores africanos, asi?ticos, europeus, neo-zelandeses e americanos, alguns s? conhecidos na sua terra, o projecto 1 Giant Leap envolveu vedetas como Robbie Williams, Michael Stipe, Neneh Cherry, Grant Lee Phillips, Horace Andy e Speech, dos Arreested Development, entre muitos outros.
Estiveram em mais de 20 pa?ses, para recolher material. Que critério seguiram para escolher esses destinos?
Duncan - Conhecimento e ignorância. Por exemplo: pass?mos demasiado tempo na ?ndia porque ador?mos o pa?s. Pod?amos ter ido a mais s?tios ainda, mas o nosso objectivo n?o era ir a todo o lado. Diziam-nos que havia bons bateristas no Gana, e l? ?amos n?s ao Gana à procura deles.
Diriam que esta moda da world-music é uma tendência passageira, ou algo mais do que isso?
Jamie - Acha que é uma moda? Nos ?ltimos 20 anos tem havido fus?es de todos os tipos, mas nunca de maneira satisfat?ria para n?s. Foi uma das raz?es por que
começ?mos com este projecto. Se alguém pega num «sitar», ou um cantor turco, e misturar uma batida de bateria, de facto soa bem. ? f?cil fazer algo soar mais ou menos bem. Mas para que soe duma forma fant?stica j? é preciso fazê-lo com alma. H? uma grande percentagem de discos razo?veis, mas s? uma pequena percentagem é realmente fabulosa. N?s quer?amos estar nessa pequena percentagem. Para isso foi preciso uma entrega pessoal muito maior. Por isso, fomos a todos esses locais, trabalhar e falar com as pessoas, os m?sicos. Na maior parte dos discos de world-music o cantor nem chega a conhecer o produtor. Com a nossa forma de gravar - levando o laptop para aldeia - eles ouvem a m?sica tal como ela é, e podem tocar de uma forma ?nica. E v?o recordar esse dia. Todo o ?lbum é feito destas preciosidades.
Diriam que esta moda da world-music é uma tendência passageira, ou algo mais do que isso?
Jamie - Acha que é uma moda? Nos ?ltimos 20 anos tem havido fus?es de todos os tipos, mas nunca de maneira satisfat?ria para n?s. Foi uma das raz?es por que começ?mos com este projecto. Se alguém pega num «sitar», ou um cantor turco, e misturar uma batida de bateria, de facto soa bem. ? f?cil fazer algo soar mais ou menos bem. Mas para que soe duma forma fant?stica j? é preciso fazê-lo com alma. H? uma grande percentagem de discos razo?veis, mas s? uma pequena percentagem é realmente fabulosa. N?s quer?amos estar nessa pequena percentagem. Para isso foi preciso uma entrega pessoal muito maior. Por isso, fomos a todos esses locais, trabalhar e falar com as pessoas, os m?sicos. Na maior parte dos discos de world-music o cantor nem chega a conhecer o produtor. Com a nossa forma de gravar - levando o laptop para aldeia - eles ouvem a m?sica tal como ela é, e podem tocar de uma forma ?nica. E v?o recordar esse dia. Todo o ?lbum é feito destas preciosidades.
Como explicam a participaç?o de vedetas como o Robbie Williams Michael Stipe, neste projecto?
Jamie - Graças à presença do Robbie, a nossa m?sica vai seguramente passar na r?dio. ? uma coisa boa, mais pessoas v?o descobrir o disco. O caso do Michael é diferente: é uma pessoa especial, que sabe ouvir e nos inspira realmente.
Este é um projecto
Duncan - As nossas preocupaç?es n?o s?o tanto de ordem pol?tica, mas antes social. A globalizaç?o é um tema um pouco tabu, com conotaç?es negativas. H? obviamente aspectos que s?o muito maus na globalizaç?o, mas n?s escolhemos focar sobretudo os aspectos positivos. A m?sica est? a viajar pelo Mundo com mais facilidade. M?sica africana é ouvida em Inglaterra, m?sica inglesa é ouvida em ?frica e as pessoas s?o influenciadas pelas duas. Basicamente, quisemos celebrar a ideia de que o planeta est? a encolher. N?o é uma coisa m? quando os africanos, indianos e outros vêm para o ocidente. Essa mistura é boa. N?o gostamos é da ideia que quatro empresas possam ser donas do mundo. Somos contra quem abusa do poder. Somos contra a ganância.
Mas vivem com a contradiç?o de quererem transmitir uma mensagem humanista no contexto capitalista da ind?stria da m?sica?
Duncan - Uma das coisas que quer?amos fazer, musical e filosoficamente, mas mais musicalmente, era tirar a essência e a beleza das coisas. Estamos num mundo comercial, portanto, o que n?s queremos fazer é levar as pessoas a pensar e falar sobre o estado do Mundo.J. - N?o somos anticapitalistas. N?o achamos mal que as pessoas ganhem dinheiro. O capitalismo em si n?o é mau, o problema é o abuso.
Diriam que o que as pessoas têm em comum é mais forte do que aquilo que as separa?
Jamie - Esse foi precisamente o pensamento do qual partimos. Todos sabemos o que é ter um desgosto, todos sabemos que vamos morrer, todos precisamos de dinheiro para comprar comida para as nossas fam?lias. Enquanto seres humanos, todos temos preocupaç?es, esperanças, e sentimos medo, ou necessidade de amor. O que nos divide, no fundo, s?o coisas superficiais. E ignorância, muita ignorância.
Entrevista de Jorge Lima Alves, em Londres (Jornal Expresso 04/05/2002)
salamandrine 14:45